ENTRE CÉU E CHÃO
Luiz Norões tinha pressa, mas disfarçava.
Visto de longe era alto, calmo, sem relógio.
Próximo, se passava a limpo no desenho
ou na pintura, e o mar de dentro, não ameaçado
por ondas, da Urca, ficava ao fundo, em rascunho.
Depois, o que vinha à tona era no mar de fora:
o mergulho de cabeça, a mão de afogado
do homem ao vento que se agarra ao mastro
no topo do edifício, a curta vida da rua
que encontra na esquina uma parede
a solidão dos últimos andares nos domingos.
Armando Freitas Filho
do livro Fio terra |