Em meio à intensa discussão sobre a “volta à pintura”, em que também se discutiu a pertinência de uma figuração na pintura contemporânea, Luiz dizia: “Faço imagens: nem sei se estas imagens que construo estão em mim ou no mundo”.
De fato, as imagens que aparecem em seus desenhos, seja um homem que se abaixa grotescamente para acompanhar um minúsculo trenzinho de brinquedo, seja o que é dependurado num mastro, funcionando como uma bandeira de resistência ao vento, ou mesmo aquele que “planta bananeira” no centro de um desértico campo amarelo, são imagens que, no seu aparecer, borram fantasiosa e ironicamente essa distinção entre o artista e o mundo, como Luiz intuíra.
A fantasia, que para os poetas românticos só seria possível na natureza antes da queda, aparece aqui na forma de um “achado” que, na sua imprevisibilidade, lançaria o desejo de reconstrução da unidade perdida. Mas, como os próprios desenhos e pinturas de Luiz deixam ver - no que se repetem e se acumulam sem finalização - no mundo das aparências, como apontou o poeta Novalis, a fantasia só se mostra, como “genialidade fragmentar”. Assim é que se pode ver esta exposição: uma coletânea de fragmentos em que cada um aponta para o “raio divinatório”, ao mesmo tempo que reconhece, ironicamente, seus limites.
Não é à toa que Luiz tinha admiração por Goeldi. O homem-bandeira, que aparece em mais de um de seus trabalhos, tem a genialidade e a ironia do desenhista e gravador suiço-brasileiro. Atualiza entre os muitos pintores de ocasião, gerados no ardor de uma época, a pintura-reflexão, nos moldes da ironia romântica, assim como em Goeldi. É assim que este homem, que a duras penas se mantém no mastro, relança as preocupações de transcendência que, paradoxalmente, vêm acompanhadas da dúvida sobre a própria transcendência. Afinal, a força do vento que o mantém bandeira é a mesma que o quer homem: levanta-o, mas só para fazê-lo entender que não o sustentará, a não ser sob o signo da perdição. Paroxismos de uma época em que, sabendo-se da impossibilidade da retomada da expressão utópica, propõe-se a volta à pintura e ao hedonismo da cor.